Moinhos de Água - Penhas Altas
ajudados pelo sonho
cavalgávamos as nuvens espelhadas
no açude dos moinhos de água
conjugávamos o futuro no sussurrar do vento
e trauteávamos Brel
como se a angústia fosse ali já
ao virar da esquina
e regressássemos de caminhos por percorrer
mergulhando a fadiga
no açude dos moinhos de água
as folhas das árvores
pressentindo outonos nas asas dos pássaros
deixavam-se tombar
para a última viagem
no açude dos moinhos de água
descobríamos viagens
nos nossos corpos cansados de sol
e filtrávamos o desejo
em copos de vinho novo
com a cumplicidade dos morcegos
junto ao açude dos moinhos de água
descobrimos depois
que o sonho tinha partido
com as chuvas do último inverno
enquanto os nossos filhos
acariciavam a brisa do entardecer
junto ao açude dos moinhos de água
eram quentes as noites
junto ao açude dos moinhos de água